Preenchendo as lacunas no estudo do esporte africano
- Priscilla Marques Campos
Para celebrar 20 anos de pesquisa sobre esportes na África, a rede SportsAfrica irá publicar uma série de artigos mensais no Africa Is a Country, baseando-se nas pesquisas de seus membros.
Em novembro de 2003, os acadêmicos de esportes Gérard Akindes, Peter Alegi, Simon Adetona Akindes, Martha Saavedra, Matthew Kirwin e Nana Owusu-Kwarteng se reuniram em uma sala de reuniões no porão, durante a Reunião Anual da Associação de Estudos Africanos (African Studies Association—ASA), em Boston, para refletir sobre o estado dos Estudos de Esportes Africanos. A ASA é o maior encontro anual de acadêmicos pesquisadores da África. Dada a crescente importância e visibilidade dos esportes na vida cotidiana, o grupo acreditava ser hora de criar uma rede formal de pesquisadores e praticantes para enfrentar os desafios intelectuais que os esportes representam para o continente. A missão da rede, elaborada ao longo do tempo por sua comunidade apaixonada composta por praticantes e acadêmicos, é de tornar os estudos de esportes africanos uma parte interdisciplinar, inclusiva, acessível e integral da conversa global e de bolsa de estudos sobre esportes.
Vinte anos depois, a organização resultante, SportsAfrica, ainda reconhece a urgência de encontrar soluções criativas para os imensos obstáculos enfrentados pelos esportes africanos, desde infraestrutura, treinamento e desempenho até financiamento, gestão e condições socioeconômicas mais amplas.
As conferências anuais são um pilar da SportsAfrica. Em fevereiro de 2004, o Instituto para a Criança Africana e o Centro de Administração de Esportes (African Child and the Center for Sports Administration) da Universidade de Ohio em Atenas, sediaram a primeira conferência sobre “Esportes, Juventude e África”. A Universidade de Ohio hospedou as próximas nove conferências, explorando múltiplos temas de teoria e prática esportiva. Acadêmicos de diversos campos, como Economia, História, Antropologia, Saúde, Comunicação, Política, Gênero, Administração Esportiva, Gestão e Educação Física, entre outros, participaram desses encontros.
Como resultado, a conferência da SportsAfrica tornou-se uma marca reconhecida nos Estudos de Esportes Africanos. Reúne um grupo de acadêmicos informados e determinados, praticantes de instituições universitárias e representantes de organizações profissionais e sem fins lucrativos em todo o mundo. A SportsAfrica trabalha em quatro idiomas—inglês, francês, português e espanhol. Os destaques da conferência incluem apresentações de pesquisas, várias discussões em grupo, palestras principais e oficinas sobre o ensino de cursos de esportes africanos.
Estabelecer o estudo dos esportes como um campo acadêmico respeitável foi nossa primeira prioridade devido à escassez e quase invisibilidade de tais pesquisadores. Por exemplo, em 2020, Louzzane Coetzee, recordista mundial paralímpico dos 5.000 metros femininos da África do Sul, organizou e liderou uma mesa-redonda sobre o movimento Paralímpico na África. Alguns dos participantes do painel incluíram Ernesta Strydom (Comitê Paralímpico Internacional, oficial técnica, África do Sul), Limpho Rakoto (Comitê Paralímpico Nacional, Lesoto, presidente), Suren Ayadassen (representante do Comitê Paralímpico Nacional, Maurício), Memory Kahlari (gerenciamento e administração de equipes, Namíbia) e Hetsie Veitch (ex-competidor, África do Sul). Outra mesa-redonda no mesmo ano—”Atletismo Africano em Tempos de Mudança: Da Base ao Palco Global”—reuniu atletas olímpicos, treinadores e oficiais de todo o continente, incluindo: Isaac Makwala (Botsuana), Coetzee, o falecido Anthony Koffi (Costa do Marfim), Aziz Daouda (Marrocos), Ed Neufville (Libéria) e Frank Fredericks (olímpico namibiano).
A SportsAfrica sempre sonhou em levar a conferência para o continente africano e, em 2017, finalmente aconteceu. O Instituto para a Paz e Justiça Social da Universidade do Estado Livre em Bloemfontein, África do Sul, organizou nossa 11ª conferência com o tema “Subalternidades Esportivas e Justiça Social”. No ano seguinte, a Universidade da Zâmbia em Lusaka sediou a conferência sob o tema “Estudos Esportivos Pan-Africanos: Além da Educação Física”. Em 2019, a Université Cheikh Anta Diop em Dakar (Senegal) tornou-se a primeira instituição anfitriã em um país francófono. Durante a pandemia de COVID-19, a 14ª conferência foi hospedada virtualmente pela Universidade Nelson Mandela, na África do Sul, e a 15ª conferência será realizada em Abidjan, Costa do Marfim, será em 2025.
Além das conferências, realizadas com recursos limitados, entre nossas muitas conquistas, incluem-se:
- Impumelelo (em Zulu “sucesso”), um jornal eletrônico de acesso aberto sobre Esportes Africanos, publicado entre 2005 e 2011;
- Um banco de dados com mais de 100 acadêmicos e praticantes de esportes de todo o mundo;
- A publicação de “Esportes na África, Passado e Presente” (Sports in Africa, Past and Present), um livro editado pela Ohio University Press que surgiu de nossa conferência de 2017;
- Um site e um canal no YouTube (SportsAfrica Network—YouTube) com mais de 100 entrevistas em vídeo apresentando uma seleção de apresentações de nossas conferências de esportes africanos;
- Em nosso Canal do YouTube, postamos vídeos de palestras e entrevistas com nossos participantes—acadêmicos, atletas e líderes esportivos. Dentre elas, Lee Evans (medalhista de ouro nos 400m nas Olimpíadas do México em 1968); Manute Bol, o primeiro jogador de basquete da NBA do Sudão do Sul; Astou Ndiaye do Senegal, ex-jogadora de basquete da WNBA; o senegalês Amadou Gallo Fall (Presidente da Basketball Africa League); e Mustapha Larfaoui, da Argélia, ex-membro do Comitê Olímpico Internacional (COI). A lista também inclui Carol Garoes, co-fundadora e Secretária Geral da Associação Africana de Mulheres no Esporte (AWISA) e presidente da Associação de Mulheres no Esporte da Namíbia (NAWISA), e Aziz Daouda, diretor técnico e de desenvolvimento da Confederação Africana de Atletismo (CAA), Marrocos.
Durante a pandemia de COVID-19, a SportsAfrica lançou uma série de discussões ao vivo com autores e webinários sobre diversos tópicos com conferencistas de todo o continente. Essas sessões ao vivo da SportsAfrica, apresentaram acadêmicos em diálogo com um público internacional sobre temas como migração, jogos de azar, masculinidades, Economia do Esporte, empreendedorismo, Paralimpíadas e atletismo. Os webinários e as discussões de livros permitiram que o público africano ouvisse e se envolvesse com praticantes, treinadores e oficiais, que de outra forma não estariam presentes em nossa conferência, mas que são jogadores e partes interessadas importantes no campo.
A jornada ao longo das últimas duas décadas tem sido notável, mas estamos determinados a aumentar a produção de pesquisa e criar espaços vibrantes e dinâmicos de colaboração. Buscamos forjar parcerias entre indivíduos, instituições educacionais e múltiplas organizações para ajudar a produzir um ecossistema esportivo informado por pesquisas especializadas em benefício de administradores, atletas e o público em geral na África e na Diáspora.
Como essa rede precisa se expandir internacionalmente, celebramos nosso 20º aniversário fazendo parceria com a AIAC para publicar dez artigos sobre esportes na África. Eles serão publicados todo dia 15 do mês, a partir de março.
Para isso, convidamos contribuintes interessados a nos enviar resumos de 100 palavras. O conselho executivo da SportsAfrica selecionará artigos cobrindo diversos tópicos de diferentes regiões. Nossa plataforma abre espaço para proposições e projetos criativos que vão contra a visão neoliberal dominante do esporte, focando no bem-estar do atleta comum e do cidadão. Por favor, junte-se a nós no esforço para impulsionar os esportes africanos para um lugar onde as pessoas possam ganhar a vida, prosperar e se sentir bem.
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